Nos últimos anos, a sociedade brasileira foi acometida por uma estranha onda de reações contrárias ao enfrentamento das desigualdades. A porção mais significativa de tais reações dirigiu-se às políticas públicas distributivistas desenvolvidas e aperfeiçoadas – no plano governamental – nas últimas décadas. Tais políticas foram acusadas de disfunção econômica e sobre elas colocou-se o ônus da crise financeira, do desequilíbrio macroeconômico e da degradação cambial. Vivemos um período no qual predomina o raciocínio binário, como se as políticas sociais fossem incompatíveis com o rigor fiscal e como se fosse necessário escolher entre um e outro desses valores.
É claro que, nesse contexto, existem polêmicas de bom espírito acerca do modo melhor ou mais eficaz de conduzirmos as políticas públicas necessárias à construção uma sociedade mais justa em acesso e oportunidades. Esse debate é um dever de todos, na perspectiva do aprimoramento. Infelizmente, porém, o que vem predominando na esfera pública, recentemente, não é a preocupação com a eficiência dos mecanismos e instrumentos e sim um questionamento cego quanto à necessidade mesma de buscarmos a equidade. Esse questionamento se soma a um conjunto de ataques verbais e concretos à importância do Estado e das políticas públicas na consecução de uma tal tarefa. No bojo dessa reação colocam-se espantosamente perguntas que pareciam ultrapassadas: a igualdade é mesmo um bem? a igualdade é necessária? a desigualdade é um mal? A desigualdade pode desaparecer ou é um dado natural da vida social?, perguntam-se muitos de nossos contemporâneos, muitas vezes por má fé ou inocência.
A Escola da Cidade pertence a uma parcela da sociedade brasileira para a qual as disfunções econômicas que nos assombram correntemente envolvem as desigualdades sociais, espaciais, étnico-raciais e de gênero. Acreditamos que, em face de tais discrepâncias e frente ao desmanche de toda uma tecnologia social desenvolvida para que possamos superar a estrutura social predatória que ainda nos caracteriza, devemos nos empenhar coletivamente em um projeto comum de ação social que exige um novo esforço de inclusão. Exige também mostrarmos a outros setores da sociedade brasileira que a busca por mais igualdade é fundamental não apenas para construirmos uma sociedade melhor (o que é sim um valor civilizacional) mas também para o próprio desenvolvimento do país. Aí se encontra de um compromisso mal tratado como utópico porém, a rigor, bastante pragmática: o combate às desigualdades é algo com o que todos saem ganhando – um clássico exemplo da chamada “win-win situation”.
A Escola da Cidade comunga assim deste pensamento: para nós, as políticas de inclusão devem existir e devem ser aprimoradas, sempre, não apenas na perspectiva do dever moral e filantrópico mas também por acreditarmos que uma escola plural é uma escola mais inteligente e que o ambiente escolar se enriquece com o aumento da diversidade. Nossas ações de inclusão se baseiam portanto nessa dupla ancoragem: existem para criar oportunidades e, ao mesmo tempo, ampliar nossa nosso contato e nosso envolvimento com os problemas reais e cotidianos de nosso país.